terça-feira, setembro 09, 2008

Só com Azougue




Tava querendo escrever não sabia bem o que, mas a ida de Manoel Salustiano Soares, mais conhecido como Mestre Salu, pra outras bandas deixa a cultura Pernambucana meio que órfã.

Não faz muito tempo, os folguedos populares de Pernambuco (exceto frevo, baião e ciranda) eram tidos como coisas menores, coisa "de gentinha", ou de "macumbeiro", dos "ignorantes" e outras denominações pejorativas.
Apesar dos trabalhos de Câmara Cascudo e Mário de Andrade sobre a riqueza de nossa cultura popular, as pessoas de classes alta, média, remediada e mesmo setores mais urbanizados das classes trabalhadoras tratavam essas manifestações com desdém, em especial Maracatus, Caboclinhos e Cavalo Marinho. Alguns recortes de jornais da primeira metade do século passado, por exemplo, protestam contra o fato de que um determinado clube da zelite pernambucana ter tocado, durante o tríduo momesco, maracatu, e falamos aqui de Maracatu de Baque Virado, ou maracatu nação, bem mais ambientado na vida urbana.
Falar em Maracatu Rural, com seus cabocos de lança, caboclos de penas, damas do passo e sua inconfudível musicalidade era praticamente um palavrão. Pouco se sabia sobre as personagens humanas, animais e fantásticas do Cavalo Marinho. Babaus, Emas, Burras, Mateus, Bastião e Catirina eram coisas distantes, embora lambessem nossas caras.
O Movimento Armorial fundado por Ariano Suassuna, Família Madureira, Antônio Nóbrega, entre outros, aproximou a cidade desses folguedos, o movimento Mangue de Chico Science e Fred Zero Quatro, Mestre Ambrósio e cia. ilimitada desmistificou de vez. Não ficou difícil ver estudantes universitários aprendendo a tocar rabeca, cantar loas de samba de maracatu e dançar Cavalo Marinho.
Esses movimentos não seriam possíveis sem a presença de Mestre Salu, que, generosamente, de sua Casa da Rabeca, ensinou, a tod@s, os caminhos que levavam à beleza da cultura pernambucana.
O que é que tudo isso tem a ver com cachaça? Primeiro que os grandes homens e mulheres devem ser lembrad@s e celebrad@s, bebamos a ele. Segundo, Azougue é a bebida que os Caboclos de Lança bebem antes de sair pro carnaval, é feito de cachaça de cabeça e pólvora...
VALEU SALU!

2 comentários:

o refúgio disse...

Massa o texto, Giovanni. VALEU! Pelo Mestre Salu e por toda a zona da mata.
Beijão.

L. Archilla disse...

na virada cultural (SP) deste ano fiquei emocionadíssima com um cortejo de maracatu. é difícil entender como, há tempos atrás, a cultura popular nordestina era desdenhada. se tivesse dinheiro, ia me acabar em pernambuco... ô delícia!